Por que você deve evitar querer sempre dar a última palavra

O que será que é melhor? Querer estar sempre certo ou termos paz? Num relacionamento, muitas vezes, não é possível termos as duas coisas ao mesmo tempo.

Luiz Higino Polito

Um dos sinais de que estamos mesmo amadurecendo na vida é que vamos perdendo a vontade de parecer que estamos sempre certos. Perdemos, aos poucos, aquele orgulho de querer dar sempre a última palavra! Muito mais importante do que isso é aprender a viver em paz com nosso cônjuge, filhos e outros parentes. E até com desconhecidos.

Outro dia, vi na internet uma frase sobreposta numa foto que tinha um rapaz com uma mochila nas costas, seguindo por um bucólico caminho, de bicicleta: “Cansei de ter razão. Agora quero ter tranquilidade e paz”.

Evitando prolongar demais as discussões

Em minha infância, vi muitas discussões “acaloradas” de meus pais, muitas delas aos gritos. Lembro-me até hoje dos efeitos terríveis que tais discussões provocavam em nós, os cinco filhos, cujas idades iam de um a vinte anos, mais ou menos. Com exceção só do filho mais velho, que tinha coragem de se intrometer nas discussões, os menores (incluindo eu), apenas nos encolhíamos, esperando que a tempestade familiar acabasse o mais brevemente possível.

Todo casal tem lá os seus desentendimentos, devido às diferenças de educação que ambos receberam de suas famílias, antes de casarem. Isso é aumentado ainda mais quando existem diferenças de cultura e religião.

Mesmo sem querer ou sentir, os cônjuges automaticamente reagirão, nas discussões, de acordo com seus conceitos e preconceitos, causando muitas vezes, entre eles, brigas com frequência e com consequências nefastas tanto para eles mesmos, como para os filhos, se já os tiverem.

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O importante é que pelo menos um dos cônjuges tenha muita paciência e visão mais longa, não pensando apenas em si mesmo e querer sempre ter razão, e nem querer sempre ter a última palavra, mas sim conseguir pensar mais a longo prazo, se esforçando para ter um lar com mais paz e tranquilidade.

Ser uma só carne

No casamento, solenemente, prometemos “ser uma só carne”, o que implica que tentaremos ter uma só visão quanto aos assuntos importantes, além, claro, de nosso relacionamento íntimo e pessoal. Ser “uma só carne” com nosso cônjuge não é uma coisa rápida de se conseguir, porque isso envolve muitas coisas, tais como abnegação de parte a parte, confiança mútua, amor, esforço e grande desejo de que o relacionamento se solidifique cada vez mais, e que “dê certo”, como dizemos.

Somente havendo muito comprometimento é que os dois cônjuges conseguirão ser mesmo “uma só carne” e pode levar muito tempo para que se chegue até esse ponto, mas vale a pena! Já foi dito por muitos que famílias felizes não são obra do acaso, mas de um grande esforço e boa vontade de todos os envolvidos.

Já vi e frequentei muitos lares, observando com atenção a maneira como um cônjuge tratava o outro e a maneira como tratavam os filhos, e tais observações me ajudaram muito em meu próprio casamento.

Num trabalho voluntário que fiz, durante dois anos, vi muitos lares (centenas deles!) que mais se pareciam com ringues de boxe ou rinhas de galos de briga, em vez de serem lugares onde os familiares podiam descansar de seus labores, conversarem amistosamente e crescerem como família.

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Felizmente, vi também muitos lares felizes, o que me incentivou muito e despertou em mim o desejo e a esperança de que um dia eu poderia também ter um lar feliz.

Querer ter sempre razão

O orgulho é uma das maiores pedras de qualquer relacionamento. E é o orgulho que faz com que os dois cônjuges (ou um deles) queira sempre ter a última palavra em todas as coisas. Isso não acaba bem, muitas vezes, gerando, no mínimo, desconforto entre os cônjuges.

O que é mais importante: ter sempre razão ou ser feliz? Cada um deve pensar muito sobre isso. Ambos podem ter suas opiniões próprias sobre todos os assuntos, para que não sejam simplesmente um(a) “Maria-vai-com-as-outras”, mas, para um casamento ser feliz, mais importante do que as opiniões de cada um dos cônjuges, é a maneira como agirão, que determinará se o casamento será bem-sucedido. Para isso, talvez algumas dicas práticas possam ajudar.

1. Evitar elevar a voz numa conversa ou discussão

Quando um eleva a sua voz, é muito provável que o outro também aumente o seu tom de voz, e quando menos perceberem, os dois estarão gritando um com o outro. Isto não é legal. Já citei em outros artigos o que um amigo sábio dizia: “A única justificativa válida para se gritar em casa é se a casa estiver pegando fogo”.

2. Não discutir na frente dos filhos

Os dois cônjuges devem se entender quanto à educação dos filhos em particular. Nada de ficar gritando um com o outro sobre qualquer assunto, discordando frontalmente um do outro, quando o filho ou filha fizerem alguma coisa errada ou pedirem para fazer alguma coisa, como ir viajar sozinho, ou ir dormir na casa de um amigo. A decisão sobre isso os pais deveriam já ter tomado longe dos filhos e na hora que acontece o fato, os dois cônjuges devem ter o mesmo posicionamento. O pai ou a mãe falar uma coisa e o outro discordar, na frente dos filhos, é uma fonte constante de brigas, pois tira a autoridade do outro, sem contar que confunde a cabeça da criança. Isso pode ser evitado se “afinando o discurso”, como dizem os políticos, antes, e não na hora do fato.

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3. Ter sempre em mente o objetivo principal

E qual é esse objetivo principal? Ter uma família feliz. Todos nós sabemos quão difícil é a vida e quão complexo é um relacionamento a dois, e muitos são os que desistem do relacionamento no meio do caminho, por uma razão ou outra.

Quando vem os filhos, então, isso é grande bênção, mas é também uma enorme responsabilidade. E pode ser também um elemento a mais para desentendimentos, se entre o casal não existir amor suficiente e muita perseverança para que todos os envolvidos vivam em harmonia.

Finalizando, é possível se ter harmonia no lar, se os cônjuges se esforçarem para isso, além de terem amor um pelo outro. E nenhum dos dois serem muito orgulhosos querendo ter sempre “razão”, e terem sempre a última palavra.

Melhor é terem o desejo de ser feliz.

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Luiz Higino Polito

Casado, pai de três filhos e avô de quatro netos, estudei oratória e didática. Gosto muito de escrever. Profissionalmente, sou músico e tenho um Sebo Virtual, onde vivo com minha esposa e cercado de livros!