A depressão da mãe pode prejudicar o bebê ainda no ventre
Muitas mães se perguntam o que é pior para o feto, medicamentos antidepressivos ou uma depressão não tratada? Veja o que dizem os especialistas.
Erika Strassburger
Estudos internacionais sobre depressão gestacional mostram que entre 7 e 15 por cento das mulheres grávidas sofrem de depressão. O psiquiatra Joel Rennó Júnior disse ao Delas iG, “É sabido que as depressões que acontecem na gravidez, quando não tratadas, evoluem para as depressões pós-parto”.
O que causa?
Não há uma única causa para a depressão gestacional. A doença resulta de uma combinação de alguns fatores:
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O histórico familiar. Mulheres cujas famílias têm histórico de depressão são mais propensas a desenvolver a doença.
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Acredita-se que as alterações químicas ou estruturais no cérebro podem desempenhar um papel importante.
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Acontecimentos estressantes, como morte de um ente querido, abortos anteriores, dificuldades para engravidar, problemas financeiros, violência doméstica, gravidez indesejada, falta de apoio do pai da criança e da família, entre outros, podem desencadear a depressão, segundo vários estudos.
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Alterações hormonais.
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Ter tido a doença anteriormente.
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Há, também, alguns gatilhos físicos, como diabetes e doenças na tireoide, segundo este site.
O que é pior para o feto, medicamentos antidepressivos ou uma depressão não tratada?
As mulheres que já tinham depressão antes de engravidar e estão em tratamento, logo que descobrem a gravidez, muitas vezes abandonam o tratamento por medo de que a medicação prejudique o bebê. Outras, desconfiam que estão com depressão durante a gravidez, mas não procuram um profissional para obter um diagnóstico pelo mesmo motivo, ou pelo medo do impacto da notícia sobre a sua vida e a de sua família, ou, ainda, pelos estigmas relacionados à depressão.
A psiquiatra, Maria Muzik, publicou um artigo no site Baby Center em que faz vários esclarecimentos sobre o tema. Ela diz que depois de coletarem dados de mais de 30 anos sobre os efeitos dos antidepressivos sobre os fetos, e de cerca de 290 estudos publicados sobre o impacto da depressão gestacional não tratada sobre o feto e a criança, “os especialistas em psiquiatria perinatal sentem-se bastante confiantes para fazer recomendações.”
Ela diz que, de fato, há efeitos colaterais dos antidepressivos para o bebê, como sofrimento neonatal e problemas de sono, por exemplo. Mas a doença em si, quando não tratada, também traz riscos para o feto, e às vezes maiores, assim como para a mãe.
Quais as consequências de não fazer o tratamento?
A doutora Musik esclarece que é perigoso interromper o tratamento contra a depressão durante a gestação porque, estando depressiva, a mulher apresenta vários comportamentos prejudiciais para o feto, como alimentação desregrada, tabagismo, tendência a não fazer o pré-natal corretamente, e, em casos extremos, tentativa contra a própria, entre outros. Além disso, “as mulheres grávidas deprimidas apresentam níveis mais elevados de hormônio do estresse pré-natal (cortisol) em comparação com mulheres saudáveis”, afirma, o que também é um risco para o bebê.
As grávidas deprimidas também têm bebês menores e um crescimento fetal mais lento. São mais propensas a ter parto prematuro e bebês com baixo peso ao nascer.
Ela diz, também, que “os recém-nascidos de mães deprimidas apresentam, eles mesmos, níveis de hormônio do estresse significativamente maiores, em comparação aos nascidos de mães saudáveis, o que os torna mais estressados, com temperamento difícil e mais difíceis de cuidar e acalmar.”
A longo prazo, “há algumas evidências de que as crianças expostas à depressão materna na gravidez enfrentam mais problemas sociais e emocionais quando pequenas, como agressividade e outros problemas de conduta”, disse a médica. É possível, inclusive, que isso afete o QI e a linguagem da criança.
Em alguns momentos, os riscos de tomar antidepressivo podem parecer bem similares ao da depressão não tratada. Mas, em caso de depressão grave, a mulher pode querer tirar a própria vida, o que acabaria superando qualquer risco causado pelos antidepressivos, lembrou a doutora.
Outras opiniões
Segundo artigo da BBC, Stephen Pilling, do National Institute for Health and Care Escellence, defende que quando a paciente tem depressão leve ou moderada, o ideal é interromper o tratamento durante a gravidez, porque os “Inibidores Seletivos da Recaptação da Serotonina (SSRIs, na sigla em inglês) podem dobrar os riscos de que bebês nasçam com malformações no coração”. Até então a advertência era apenas contra a paroxetina. Essa é a nova orientação para os médicos britânicos, desde 2013.
De acordo com este artigo, o dr. Rennó diz que, em casos de depressão leve e moderada, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e a Terapia Interpessoal (TIP) costumam apresentar resultados similares aos dos medicamentos.
Interromper o tratamento não significa simplesmente parar de tomar os medicamentos, mas agir sob orientação médica. O profissional que sugerir esse caminho certamente indicará tratamentos alternativos. Ficar sem tratamento nenhum irá causar todos aqueles prejuízos listados acima.
Aconselhe-se com seu médico
Em caso de gravidez durante o tratamento contra a depressão, ou suspeita de depressão durante a gravidez, busque imediatamente orientação médica. Depois de estudar o seu caso, o psiquiatra poderá dizer qual é a melhor alternativa para preservar, da melhor forma possível, a sua saúde e a do bebê. Se julgar necessário, busque uma segunda opinião.
Lembre-se de conversar com ele sobre tratamentos alternativos, como acupuntura, yoga, meditação, reposição de vitaminas ou hipnose, além das terapias citadas acima.
Atenção para os sinais de depressão (os sintomas podem variar de uma pessoa para outra)
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Distúrbios do sono (dormir demais ou ter insônia)
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Distúrbios do apetite (falta de apetite ou comer compulsivamente)
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Tristeza profunda e frequente, sem uma razão especial
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Ansiedade exagerada
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Irritabilidade frequente
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Baixa autoestima
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Desgosto pela vida, desânimo
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Sensação de incompetência
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Cansaço frequente
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Lembrando que a gravidez por si só pode provocar algumas mudanças, como aumentar a emotividade, alterações no apetite e no sono. Então, outros fatores precisam estar presentes para que um diagnóstico de depressão seja confirmado, o que pode ser feito apenas por um profissional competente.