3 argumentos que explicam por que ‘riqueza’ não é sinônimo de ‘felicidade’
O mundo tem muito a oferecer, mas será que compensa sacrificar aquelas coisas que de fato proporcionarão felicidade duradoura, em troca de prazeres e riquezas que têm um prazo de validade?
Marcia Denardi
Existe um conceito muito velho entre uma considerável parcela da humanidade que abrange os primórdios da história. Ele consiste em que a felicidade é proporcionada pelas coisas que o dinheiro pode comprar. Ou seja, para muitas pessoas a felicidade é mensurada pelos bens materiais que elas adquirem, por isso, sua luta diária se resume a tentar adquirir o máximo de bens possível.
Alguns fatos que desmistificam tal conceito de felicidade
- Vivemos atualmente em uma era de consumismo excessivo, em que produtos e mais produtos são lançados a cada dia tendo em vista como objetivo primário a lucratividade. Com publicidade atraente, o público se sente impulsionado a comprar o que estiver diante dos olhos, criando a falsa ideia de que aquilo é imprescindível em sua vida. Comprar tal produto, então, dá uma rápida e intensa satisfação, proporcionando a sensação de felicidade. Mas essa sensação é passageira, e em pouco tempo, outro produto estará sendo almejado. Levando em conta que o mercado oferece incontáveis produtos novos a cada minuto, podemos concluir que jamais será possível suprir essa carência de consumo e atender aos pedidos incessantes e desesperados do comércio.
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- Outro ponto a ser ponderado na questão de se buscar bens de consumo para ter “felicidade” está no fato de que geralmente o indivíduo trabalha exaustivamente para ganhar mais e mais dinheiro, sacrificando parte do tempo que poderia ser destinado a outros campos também importantes da vida. Não estou querendo dizer com isso que o trabalho e o desejo de progredir financeiramente não sejam importantes. De fato são e fazem parte da construção da felicidade e do progresso pessoal e social, além de que são claramente necessários para a sobrevivência. Mas como tudo na vida, precisam de limites.
Uma das histórias mais fascinantes da literatura clássica é a do Sr. Scrooge, narrada por Charles Dickens no livro “Um conto de Natal”, adaptado para o cinema com o título “Os fantasmas de Scrooge”. Ele conta em três etapas como as escolhas mesquinhas e materialistas de Ebenezer Scrooge, tornaram-no um idoso totalmente infeliz e solitário. Apesar dos esforços das pessoas que o amavam para que ele desse valor a coisas mais importantes, como o amor, a fé, os amigos e a família, ele preferiu continuar afundado em seu mundo de ganância e soberba. Mas três fantasmas, um do passado, um do presente e um do futuro, mostraram-lhe que a felicidade vai muito além do que o luxo e as riquezas deste mundo.
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- Quem nunca escutou alguém dizer, ou mesmo quem nunca disse o seguinte: “eu não preciso de ninguém para ser feliz”? Existe certa verdade nessa afirmação se olharmos pelo prisma de que a felicidade é feita pelo indivíduo, porque é ele que vai estabelecer
o processo de construção da felicidade. No entanto, um dos fatores universais que envolvem a construção da felicidade está nas relações humanas. Apesar da necessidade que todos temos de ter um tempo sozinhos, a solidão em si, que perdura por muito tempo e mantém o indivíduo longe de outras pessoas, é prejudicial para a saúde física, mental e espiritual. É importante levarmos em conta que a solidão pode acontecer até mesmo sob a companhia das pessoas. E geralmente ocorre quando o foco está nas “coisas” e não nas pessoas. Agora permita-me perguntar: os momentos mais felizes de sua vida aconteceram quando você estava sozinho(a)?
O que torna a felicidade duradoura
Quer aceitemos ou não, a felicidade duradoura está ligada às relações humanas, à maneira como procuramos viver bons momentos com as pessoas que nos cercam, especialmente a família. Embora o dinheiro seja necessário para determinados produtos e atividades que serão utilizados pela família em suas diversões, e até mesmo seu conforto, o bem mais importante a oferecer às pessoas amadas chama-se tempo. Um tempo longe do trabalho, das redes sociais, do celular e da televisão, sendo direcionado a rir, brincar e passear com os filhos e cônjuge. Tempo para ensinar bons princípios, ajudar nas tarefas escolares, e incentivar. Tempo para conversar com o cônjuge, apoiar e ajudá-lo(a). E acima de tudo, tempo para dar carinho e atenção, sem esquecer as palavras mais importantes do mundo: “eu amo você”.
A busca desenfreada por riquezas pode estar sacrificando esse tempo, mesmo que não se perceba.
O historiador e pesquisador religioso Wilford Woodruff disse: “Acho que todos nós na condição de pais e filhos, devemos fazer o máximo a nosso alcance para proporcionar felicidade uns aos outros enquanto vivermos a fim de não termos nada a lamentar depois. (…) A posse de riquezas não é um requisito para a felicidade no casamento”.
Ao avaliar nossas atitudes, será que estamos de fato fazendo tudo ao nosso alcance para proporcionar felicidade à família ou será que o objetivo está em acumular riquezas que têm prazo de validade? Os momentos alegres com a família, a disposição em ensinar os filhos, e o desejo de ver a felicidade do cônjuge assim como a nossa própria são os fatores da vida que de fato se eternizam. Colocar bens materiais ou prazeres efêmeros acima da família, mais cedo ou mais tarde, podem trazer amargas e irreparáveis lamentações.
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