Álcool danifica DNA e pode provocar tumores e câncer
Estudos recentes mostram que o álcool age no DNA e predispõe o organismo ao câncer.
Stael Ferreira Pedrosa
De acordo com uma pesquisa financiada em parte pela instituição Cancer Research, do Reino Unido, e publicada na revista científica Nature na quarta-feira, 03 de janeiro, o álcool danifica o DNA em células-tronco e aumenta o risco de desenvolver um câncer.
A pesquisa
O estudo foi feito em cobaias que receberam álcool diluído quimicamente (etanol), em seguida foram analisados os cromossomos e um sequenciamento de DNA para checagem de danos ou possíveis danos genéticos causados pelo acetaldeído, que é o resultado do processamento do álcool no corpo – substância altamente prejudicial.
O resultado veio confirmar o que estudos anteriores já haviam detectado: uma associação entre o consumo de álcool e a prevalência de câncer em mais de dez partes do corpo, como intestino e mama. Isso porque o etanal ou acetaldeído interfere de forma permanente no DNA de células-tronco de ratos expostos a altas doses de álcool.
Células-tronco
Embora já tenham acontecido intensos debates com respeito às células-tronco, muita gente ainda não sabe exatamente o que são ou a importância de tais células. Estas células são especiais, pois elas têm a capacidade de se transformarem em qualquer célula especializada do corpo. Além disso, elas podem se replicar, o que significa que a partir de uma cultura de células-tronco, podem ser produzidas milhares iguais.
Devido a essas capacidades, as células-tronco são utilizadas na reconstrução de tecidos danificados por câncer ou problemas cardíacos e já estão sendo usadas na reconstrução de tecidos oculares, como a lente do cristalino em pessoas acometidas por catarata. Os resultados são animadores, já que na China 12 crianças receberam uma lente de células-tronco e voltaram a enxergar normalmente.
O perigo do álcool em relação às células tronco
O álcool danifica tais células e o problema é que as “defeituosas” não apenas se replicam no corpo, como também se alastram para outros tecidos orgânicos, o que significa alta possibilidade de neoplasias, ou seja, tumores.
O organismo tenta se defender de tal agressão liberando uma enzima chamada aldeído desidrogenase (ALDH), que quebra o subproduto maléfico do álcool, transformando-o em acetato que pode ser usado como fonte de energia. Porém, em organismos já debelados, a defesa é quatro vezes menos eficaz. O efeito principal da ressaca, ou seja, o mal-estar, é justamente devido ao organismo reagindo ao álcool.
Segundo o professor e líder do estudo, Ketan Patel, um dano no DNA das células-tronco pode levar ao desenvolvimento de alguns cânceres, o que às vezes pode ocorrer por acaso, mas o estudo sugere que ingerir álcool pode aumentar os riscos destes danos.
O álcool e o câncer
Ainda de acordo com Patel, “não estar apto a processar álcool efetivamente pode levar a um risco ainda maior de dano ao DNA e, portanto, de certos tipos de câncer. Mas é importante lembrar que a liberação do álcool e os sistemas de reparo de DNA não são perfeitos, e o álcool ainda pode causar câncer de formas diferentes, até mesmo em pessoas em que os mecanismos de defesa estão intactos”. Muito se fala nas mídias, sejam televisivas, jornalísticas ou sociais sobre os efeitos de alguns produtos no aumento dos casos de câncer, tais como os embutidos, tabaco e carnes processadas/defumadas. No entanto, pouco se fala sobre a importância do álcool no aumento dos casos de câncer.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, o câncer matou 223,4 mil pessoas no Brasil em 2015, tornando-se a segunda causa de morte no país, atrás apenas de doenças cardiovasculares. No mundo, a estimativa é 8,8 milhões de vítimas por ano – o equivalente a população da cidade de Nova York ou de toda a Áustria. O INCA (Instituto Nacional do Câncer) elege o álcool como um dos principais fatores de risco para a doença.