Terapeuta diz que criança precisa de palmadas para ter limites. Será?
Terapeuta diz que criança precisa de palmadas para ter limites. Será?
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Stael Ferreira Pedrosa
Denise Dias, terapeuta, acaba de lançar o livro “Tapa na Bunda – Como impor limites e estabelecer um relacionamento sadio com as crianças em tempos politicamente corretos” (Editora Matrix) onde se posiciona favorável à punição física, como ela conta no site crescer.
A quantidade de opiniões divergentes nesse sentido tem tornado a vida dos pais um universo de dúvidas e culpa. Afinal, bater ou não bater? É possível através de uma rápida pesquisa concluir que Denise Dias está do lado da minoria que defende a agressão física como meio de educar, afinal é de senso comum atualmente que bater para educar além de pouco eficaz é traumatizante e são poucos que seguem essa tendência.
Para Denise, a falta de palmadas “educativas” fez com que a sociedade atual se tornasse uma bagunça e criou uma geração de delinquentes adolescentes, “uma geração drogada e prostituída” já que a educação doméstica foi “monstrualizada”. A terapeuta afirma que o crescimento do número de usuários de drogas é culpa da falta de limites em casa (tapas) e não da falta de informação.
Denise estabelece – baseada nas leis da Inglaterra – o que seria agressão e o que seria a palmada pedagógica. Nesse país um pai ou mãe acusado de agredir o filho é culpado ou inocentado devido à presença de marcas na criança. Na opinião da terapeuta, se não deixar marcas visíveis, não é agressão.
Para a autora, a criança para crescer saudável necessita de um adulto seguro que lhe diga o que pode ou não pode ser feito e cita como exemplo o pai que mora no décimo andar de um prédio e não tem grades ou redes em todas as janelas. Segundo Denise, a criança “paga para ver”. O certo é simplesmente colocar proteção nas janelas.
Porém, Denise concorda que a palmada deva ser a última opção. Quando tudo mais falha: conversa, limite, castigo, então é um sinal de que ela está “pedindo por palmadas”. Se esse tipo de criança não as recebe, na opinião da terapeuta tornam-se “adolescentes que crescem e queimam um índio, atropelam skatistas…”. Ela ressalta também que a palmada pedagógica não significa em hipótese alguma bater na criança porque derrubou suco na mesa, por exemplo.
Quem diverge e por quê?
Em mais de 20 países, bater nas crianças é considerado crime. Países como a Suécia, onde desde 1979 é proibido o castigo físico, serviu de modelo à Alemanha, Áustria, Espanha, Portugal, Israel, Costa Rica e até nossos vizinhos Uruguai e Venezuela.
A União Europeia está em campanha desde 1998 contra as palmadas, baseada em estudos da Universidade de Tulane, Estados Unidos, que em 2010 publicaram uma pesquisa entre crianças de três a cinco anos e o resultado foi que as crianças com mais chances de desenvolver agressividade, – cerca de 50% eram aquelas cujos pais disciplinavam com palmadas.
No Brasil, a palmada é socialmente aceita, embora apenas no âmbito doméstico. Não é considerada crime, embora exista em tramitação no congresso um projeto de lei que visa proibir as palmadas desde 2002.
Maria Irene Maluf, especialista em Psicopedagogia e Educação Especial, afirma que “O tapa pode resolver na hora, mas não ensina o autocontrole”, alerta. O melhor é mostrar por meio de repetições e do estabelecimento claro de limites.
Para a especialista, “agressões são formas de desrespeito e deixam marcas de rejeição. Acovardam diante da vida ou criam brutamontes que farão ainda pior com seus próprios filhos”.
A punição física envolve o uso da força para causar dor e desconforto à criança. Isso inclui a palmada “pedagógica”, o que para Paul C.Holinger, psiquiatra, é um absurdo. Se bater na esposa ou agredir alguém na rua é algo deplorável e criminoso, porque deveria tornar-se aceitável agredir alguém menor e mais vulnerável?
O que a ciência diz
Dois estudos, um de 2009 e outro de 2012 concluíram que punições físicas estão associadas ao aumento de desordens do comportamento, de ansiedade, abuso/dependência de álcool e drogas e outras desordens de personalidade. Também concluíram que crianças agredidas uma vez por mês por um período de 3 anos têm menor quantidade de massa cinzenta no córtex pré-frontal, predisposição à depressão, vícios e outros problemas de saúde, diminuição da capacidade cognitiva quando em comparação com crianças que não sofrem castigos físicos.
Ninguém precisa ser um “maria-vai-com-as-outras”, a equação é simples: vendo os pais agirem de maneira bondosa, sem preconceitos e sendo honestos as crianças aprendem a desenvolverem as mesmas atitudes. Se sofrem violência, qual será a tendência natural delas?
“Estou cansado de violência… Estou cansado de guerra e conflito no mundo. Estou cansado de tiros. Estou cansado do ódio, do egoísmo. Estou cansado do mal. Não vou usar a violência, não importa a opinião de quem quer seja!” – Martin Luther King Júnior.